Chaveiro – Uma Das Profissões Mais Antigas do Mundo

Você já ficou alguma vez trancado do lado de fora de sua casa, esqueceu as chaves dentro do carro ou algo parecido?

Imagine que são nove horas da noite de uma sexta-feira. O táxi ou motorista de aplicativo lhe deixa em frente a sua casa. Você está exausto e louco para se jogar no sofá. Quando chega até a porta começa a procurar por suas chaves. Olha em todos os cantos de sua mochila, bolsos, paletó e até na calçada em frente da casa em busca daquela chave bem familiar e de uso costumeiro.

Começa a pensar tentando imaginar aonde foi que deixou as chaves. Estão no trabalho? Será que você deixou no bar enquanto estava curtindo uns drinques com os amigos após o final do expediente?

O fato é que você está trancado do lado de fora.

O que você faz se não existem outras maneiras de acesso ao interior da casa? Você chama um chaveiro para resolver o problema.

É um cenário comum que a maioria de nós já experimentou em algum momento em nossas vidas. Também é algo que consideramos como natural em um dia ou outro, mas os chaveiros nem sempre existiram. Você consegue imaginar um mundo sem nenhum tipo de cadeado, fechadura ou chaves?

Os Chaveiros nos Tempos Antigos

A profissão de chaveiro é uma das mais antigas do mundo. Acredita-se que começou no Egito Antigo e na Babilônia por volta de quatro mil anos atrás.

A crença popular é que as primeiras fechaduras e cadeados eram pequenos e portáteis, usados para proteger objetos e valores dos assaltantes que eram presença comum ao longo das rotas antigas. Mas não era só isto.

Os cadeados daquela época não eram sofisticados como são hoje. A maioria era enorme e rudemente construída em madeira. Entretanto, eles foram usados e funcionavam da mesma maneira que os nossos maravilhosos cadeados de alta segurança de hoje.  Existiam os pinos internos no mecanismo, como os atuais, mas só podiam ser movidos com o uso de uma enorme chave talhada em madeira (imagina algo parecido com uma enorme escova de dente). Esta chave gigante era inserida na fechadura e empurrada para cima.

Na medida em que esta “tecnologia” se espalhou, também podia ser vista na Grécia Antiga, Roma e outras culturas do leste, incluindo a China.

A classe alta romana empregava estas fechaduras e cadeados para proteção de seus objetos de valor. Alguns modelos de chaves eram usados como anéis nos dedos. Uma vantagem que permitia mantê-las com eles o tempo todo. Da mesma forma era também uma marca de status e riqueza. Mostrava que você era rico o bastante para ter valores que mereciam segurança especial.

A mais antiga forma de fechadura foi encontrada nas ruínas do Império Assírio na cidade de Khorsabad. Acredita-se que ela foi criada por volta de 704 AC e se parece e funciona praticamente da mesma forma que as de madeira daquela época.

A Chegada do Metal

Nada praticamente mudou com este tipo de mecanismo até por volta de 870-900 DC quando os primeiros cadeados e fechaduras de metal começaram a aparecer. Estes eram simples travas de ferro com parafusos e foram atribuídos aos artífices ingleses.

Logo em seguida os cadeados e fechaduras de ferro ou latão já eram encontrados por toda a Europa e até mesmo na China. Eles funcionavam com chaves que podiam ser rodadas, parafusadas ou empurradas.

Com o surgimento da profissão de chaveiro, estes se tornaram trabalhadores talentosos do metal. Do século XIV ao século XVII vimos a ascensão e evolução artística dos chaveiros. Frequentemente estes eram convidados a criar fechaduras ou cadeados complexos e com designs elaborados para os membros da nobreza da época. Muitos criavam modelos inspirados em brasões reais e símbolos diversos.

Embora o quesito estética dos cadeados e chaves tenha evoluído, tivemos poucos avanços feitos no mecanismo interno de trava em si. Com os avanços no trabalho com metais do século XVIII, os chaveiros foram capazes de criar mecanismos mais seguros e chaves menores e mais eficientes.

A Evolução do Cadeado Moderno

O design básico de como funciona um cadeado e a chave permaneceu relativamente imutável por vários séculos.

Quando a revolução industrial chegou por volta do século XVIII, a precisão na engenharia e a padronização dos componentes aumentou grandemente a complexidade e a sofisticação de fechaduras e chaves.

Em 1778, Robert Barron aperfeiçoou o cilindro por elevação. Esse novo tipo de cilindro requeria que os pinos fossem elevados a uma altura específica para que a fechadura fosse destravada. Este método tornou o mecanismo muito mais seguro contra arrombamento e é o mesmo utilizado até hoje nos cadeados tradicionais.

Depois de um roubo ter ocorrido em um estaleiro em Portsmouth em 1817, o governo britânico criou uma competição para a criação de uma fechadura superior. A competição foi ganha por Jeremiah Chubb que desenvolveu o detector Chubb. A fechadura não somente tornou muito mais difícil o arrombamento, mas indicava ao proprietário se alguém tinha tentado arrombar. Jeremiah ganhou a competição após um arrombador não ter conseguido violar ou abrir a fechadura em três meses. Obviamente que não foram usados alicates, serras ou algo assim. Apenas tentativas de violar usando gazuas.

Três anos mais tarde, Jeremiah e seu irmão Charles iniciaram sua própria empresa de fabricação de cadeados e fechaduras, a Chubb. Nas duas décadas seguintes eles aprimoraram o padrão de fechaduras e sistemas de chaves. Isto incluiu o uso de seis elevadores ao contrário do padrão de quatro. Eles também incluíram um disco que permitia a entrada da chave, mas tornava muito difícil ao arrombador ver os elevadores internos.

Os irmãos Chubb projetaram o mecanismo em um sistema de elevações internas, entretanto Joseph Bramah criou um método alternativo em 1784.

Suas fechaduras usavam uma chave redonda com entalhes ao longo da superfície. Este entalhes moviam pinos que interferiam com a abertura do mecanismo. Assim que estes pinos fossem movidos pelos entalhes a uma determinada posição o mecanismo era destravado. Naquela época foi dito que era impossível de arrombar.

Outro aprimoramento importante foi a criação do cilindro de pinos duplos. A mais antiga patente deste modelo foi em 1805, entretanto, a versão moderna (ainda em uso hoje) foi inventada em 1848 por Linus Yale. Seus designs de fechaduras e chaves ainda estão em uso hoje.

Fora o caso da introdução dos chips eletrônicos e alguns pequenos avanços no design das chaves, a maioria dos cadeados e fechaduras ainda são variações daqueles criados por Chubb, Bramah e Yale.

A Mudança no Papel dos Chaveiros

Com novos designs avançados e a produção industrial em larga escala, a profissão de chaveiro passou por grandes mudanças. Eles tiveram que se especializar.

A maioria dos chaveiros trabalhava com a manutenção de fechaduras e chaves na indústria e fazia réplicas. Outros chaveiros mais avançados trabalhavam para empresas de segurança em projetos e na construção de cofres personalizados para bancos e organizações governamentais.

Atualmente, os chaveiros modernos trabalham basicamente em pequenas lojas de atendimento e em atendimentos diretos. Eles vendem, instalam, mantém e reparam fechaduras e outros equipamentos de segurança.

Praticamente todos os chaveiros precisam de certas habilidades, equipamentos e ferramentas para trabalhar metais, bem como conhecimentos de mecânica e eletrônica. Muitos focam seu trabalho no setor residencial ou trabalham para empresas de segurança. Também existem aqueles chamados chaveiros ou serralheiros forenses (em atividades legais e investigação criminal) e outros especializam-se em áreas como a eletrônica automotiva.